São 20:11 do dia 28 de Fevereiro de 2010… a espera no aeroporto de Cluj torna-se monótona e secante!!! Decido então aproveitar e rentabilizar este tempo escrevendo e contando-vos mais uma aventura neste SVE. Supostamente, daqui a pouco mais de meia hora estaria a aterrar em território italiano, no mais pequeno aeroporto onde alguma vez estive, mas pelos vistos, devo estar sob influência negativa, qualquer coisa relacionada, talvez, com o desvio de 2 milímetros de Saturno em relação a Plutão que numa diagonal com Vénus proporciona-me nada menos que uma onda de azar em alguns momentos. O meu voo de regresso da viagem de 4 dias à Roménia está atrasado 2h e corro o risco de não chegar ainda hoje a casa em Asti por não ter depois transportes (comboios e autocarros).

Tudo começou à quatro dias atrás, 24 de Fevereiro de 2010… 15:30 saia de comboio de Asti e às17:30 acabado de chegar a Fossano a estação de comboios onde depois iria apanhar o shuttle para o aeroporto. Já tinha vindo mais cedo do que previa porque afinal, após telefonema da minha tutora para obter informações, fico a saber que o shuttle a cada meia hora para o aeroporto deve ser fictício e que a ultima ligação para lá hoje é às 18:15 mas o voo é só às 20:45. Ora bem passou meia hora e nada de carrinha (shuttle), após dar mais 10 minutos de margem de atraso, afinal de contas estamos em Itália, decido ligar para o número da companhia. Pressiono e dramatizo um pouco a situação e pouco depois já me vinham buscar à estação, tipo cliente VIP (ou não) apesar do shuttle das 18:15 já ter passado. Ou era transparente ou não sei, mas depois lá percebi que se calhar era aquela carrinha cinzenta que por volta das 18:10 passou no local mas que não parou. Após fazer o percurso, chegava à conclusão que bastava ter trazido como bagagem a “mochila dos escuteiros” às costas em vez do pequeno trolley e tinha arriscado fazer o percurso a pé porque não era assim tão longe ou difícil… eram somente uns 10km.

Dez minutos depois acabava o serviço VIP, pois foi-me cobrado o mesmo que ao “comum mortal”, ou seja 7€. Após isto pasmo-me ainda mais, com o aeroporto de Cuneo, nomeadamente com o seu tamanho, candidato a um dos aeroportos mais pequenos do mundo. Para terem noção, este aeroporto tem umas instalações que equivalem praticamente às do Aeródromo de Antanhol. Agora sim parece que o senhor Pina Prata sabia do que prometia, quando se candidatou às eleições autárquicas. Um aeroporto em Coimbra não é impossível apesar de o parecer.

Mais tarde chegava à Roménia. Aeroporto de Cluj era onde dava os primeiros passos na minha primeira visita ao Leste da Europa. Depois de Itália, Finlândia e Holanda… o meu destino era este país verdadeiramente “estranho”. Passo a explicar mais a frente… Retomando o fio à meada… 23:15 primeira estupefacção… depois de entrar no aeroporto e ao dirigir-me para a saída, vislumbro uma fila para controlos de segurança para controlar os passaportes. Ah pois… isto a Roménia pode estar na UE mas continua a ser obrigatório a fazer uma pit-stop para mostrar o passaporte ou documento de identificação. Pela primeira vez dou uso ao passaporte e respondo a algumas perguntas como… “É a primeira vez que vem à Roménia?” ou “O que é que vem cá fazer?”. Esta última é deveras interessante, porque qualquer indivíduo mal-intencionado irá, obviamente, dizer as suas pretensões maléficas em frente à polícia. Sem dúvida… mas como este não era o meu caso, lá respondi que estava de visita por 4 dias.

Após isto, uma espera um pouco preocupante pelo Bruno, “voluntário europeu” português em Oradea a quem iria retribuir a visita, dado que ele esteve em Asti à duas semanas atrás. Ora pois, o Bruno não estava à minha espera no terminal de chegadas e o tempo passava e, na minha cabeça, já se supunha que ele, às tantas, só me esperaria na estação de comboios. Preocupava-me também um pouco o facto de não ter “Leis”, a moeda romena, e não saber ao certo quanto custaria o transbordo até à estação, correndo um elevado risco de ser “chulado” mas pronto 35 minutos depois lá chegou ele e fomos de táxi para a estação. Pasmo-me com o taxista que fala inglês melhor que os outros taxistas, à porta do terminal e que apenas usam os “chavões de inglês” mal uma pessoa mete um pé fora da porta… parecem cães esfomeados atrás de um osso.

Chegamos à estação e vemos que, segundo o placard de partidas, que só temos comboio às 2:28… pois bem um paleio e uma caminhada cá fora, porque a sala de espera estava com odor a “sulfato de podre” – não tanto como a sala de espera de Budapeste, mas também não lhe fica muito atrás – e assim só aguentámos um minuto lá dentro.

Enquanto esperávamos numa estação de tram, fomos interrompidos pela simpática polícia romena, que imediatamente pede os passaportes, destaque para o sorriso quando viram que tinham na frente dois portugueses. Continuando a sua atitude de simpatia, somos imediatamente recambiados de volta para a estação, pois se estamos à espera de um comboio devemos fazê-lo na estação, assim justificam-se os polícias. Ora toca a esperar mais um pouco em pé e, pouco depois, chega o clássico comboio que parecia ter saído de uma espécie de museu da antiga URSS.

Por falar em comboios, apesar da Roménia ter uma das mais densas redes ferroviárias da Europa, este comboio para fazer 160 km de Cluj a Oradea demorou umas 4h. Outro exemplo, de Oradea para Bucareste (600 km) demora-se 12h. Assim, eram umas 6:30/7:00 da manhã quando finalmente chegávamos a casa do Bruno.

Pela manhã ponho-me a conversar com os companheiros voluntários do Bruno. Valério o italiano, Andreas alemão bizzarro e Nicolas francês. Desta conversa realce para a expressão do Valerio que prefere receber os 160€ para comida e pocket money que lhe dão na Roménia do que os 300 que recebo em Itália para os mesmos efeitos. Segundo ele consigo poupar porque não fumo. Quanto à bebida, digo-vos somente isto… eles encontram-se num dos “paraísos fiscais da noite” pois enquanto eu pago, no mínimo, 2,50 por 20cl de cerveja eles com isto bebem o triplo. Falamos um pouco dos nossos projectos e, entretanto, chega a hora de almoço.

Durante a tarde, um passeio pela cidade, percorrendo os sítios principais, pois apesar de a cidade ter muitos habitantes, os sítios de interesse não são assim tão abundantes. As ruas estão decoradas com pequenas bandeiras da Roménia e da cidade. Segue-se uma partida de ping-pong, no Centro Cultural, por 1,50€ por meia hora de jogo muito bem disputado e equilibrado, terminando com um 4-3 para o “romeno” mas com uma clara desvantagem quando nos últimos dois jogos as luzes apagaram-se e, também convém referir que a forma física não era a melhor, estando uns furos abaixo da média.

Regressamos a casa, pois era tempo de trabalho mesmo em dias de férias. Como neste momento, após a fuga “gaulesa e flamenca” estou sozinho no meu projecto e a mãos com duas transmissões na rádio, a minha própria “Ascolta Tuga” com gravações semana quinzenais e a “Punti di Svesta” mensal que sozinho torna-se difícil de gerir. Mas pronto, aproveitando esta viagem e o contacto com outros SVE’s, porque não fazer qualquer coisa do género uma entrevista de onde se extraia uma visão de como é a vida destes voluntários europeus na Roménia. Uma hora e meia de conversa bastante animada e que voou sem que déssemos conta, largava o trabalho e podia dedicar-me inteiramente às férias.

Se na Itália, há o hábito de ao fim da tarde/inicio de noite os bares servirem o “apperitivo” – onde se paga um valor por uma bebida (o que fiz em Turim custou-me 5€) e pode-se comer o que quiser do buffet servido – Aqui na Roménia, em Oradea, é melhor… chama-se Happy Hour, ou seja, das 17h às 20h as bebidas são mais baratas. Felizmente ainda chegamos a tempo para os últimos 20 minutos deste período e veio então meio litro de Heineken pela módica quantia de 60 cêntimos! E atenção porque a cerveja mais barata já tinha acabado!

Trata-se de um bar húngaro bastante interessante e decorado originalmente a um nível de um “Feito Conceito” em Coimbra, mas de “segunda liga” de bares. Chega o intervalo para jantar, Mcdonald’s para ser mais prático e, mais uma admiração… Um McMenu normal que em Asti fica no mínimo a 5,90€, aqui fica-se pelos 10 Lei (2,75€)! Pena é que aqui também não há aquele molho fantástico para as batatas que temos em Portugal!!! Devemos ser únicos… Será?

Retornados ao bar porque a noite só acabaria às 3h da manhã… pelo meio mais meio litro de cerveja, shot de Tequilla com direito a sal e limão, isto depois de duas coca-colas, porque em 6 meses o Bruno não sabe pedir duas cervejas no bar “Lord’s” que pelo que dizem é o melhor da cidade! Sabíamos que dentro daqui a umas horas estaríamos a levantar-nos para rumar a Sibiu, a segunda cidade do roteiro. E assim foi…

O meio de transporte original não foi autocarro, comboio, avião ou barco…não foi mota nem carro, mas sim camião! Por estes lados é normal andar-se à boleia. Assim este camionista foi o primeiro a parar nos 15 minutos totais que pedíamos boleia e foi quando era o meu “turno” para segurar a folha com “Cluj” escrito.

Após isto foi uma estrada esburacada, pois neste país as auto-estradas são uma coisa da modernidade e ainda em construção. Podemos dizer que a Roménia se encontra, neste momento, na sua “Idade de Betão” aquela que Portugal também teve depois de 86 até meados da década de 90. Mas o pior mesmo é a condução romena!!! Enquanto o Bruno dormia, na parte onde os camionistas descansam nas suas pausas, eu ocupava o lugar do pendura quando o camionista decide ultrapassar um velhinho Dacia e… a meio desta manobra, em plena faixa contrária, aparece outro camião de frente ao fundo. Palavrões em romeno e la tenta ele voltar à sua faixa e reduzir a velocidade, mas o velhinho e vagaroso Dacia ainda estava a ocupar o “espaço vital” do camião e assim não conseguia voltar à faixa. Passou-me pela cabeça já uma grande travagem de camião e o fatal “choque frontal”. Felizmente, como por milagre, o Dacia parece que encolheu e o acidente evitado. Atenção que este já era o segundo incidente rodoviário, o primeiro tinha sido uma travagem brusca, após ver carros a uma velocidade reduzida mais à frente, isto porque íamos com uma relativa velocidade excessiva para camião. Agora percebo o resultado da velinha que meteram por mim à Nossa Senhora dos Aflitos! Obrigado a tal pessoa.

Três horas depois acabava-se a boleia, estávamos no “parque de repouso” para camionistas a 14 km de Cluj. Toca a fazermo-nos à estrada de novo e decido que devemos arriscar uma nova boleia. Folha na mão e andando ao mesmo tempo… 1km depois tínhamos a segunda boleia garantida, o momento é que não era o ideal porque o Bruno estava a “mudar a  água às azeitonas”, mais um êxito para mim na requisição de boleia. Se para trás ficavam as povoações onde se viam pessoas a pedir boleia e galinhas no meio de uma curva… agora enfrentávamos uma condução “estilo Colin Mcrae”, este condutor num Audi A3 fazia ultrapassagens pela direita quando não havia duas faixas mas sim só uma berma de alcatrão. Parecia aqueles vídeos de perseguições nos EUA que por vezes surgem nos filmes. Felizmente a viagem foi curta e chegamos “inteiros” ao centro de Cluj.

O próximo passo foi apanhar um táxi para um local, já referenciado por outros voluntários que tinham feito o mesmo percurso à boleia, contudo desta vez estivemos mais de 1h à espera de uma “alma caridosa” que parasse. Porém tardou mas acabou por aparecer. Mais um longo caminho (150km) com um romeno de meia idade que só reclamava com o tráfego. Pelo menos deu para dormir e chegámos a Sibiu por volta das 15h da tarde, onde na sua via principal de acesso têm pequenas bandeiras da UE e da Roménia nos postes de iluminação.

As expectativas eram altas, já que alguns me diziam que era a cidade mais bela da Roménia e que também tinha sido a Capital Europeia da Cultura em 2007. Infelizmente perdemos 1h a encontrar a casa do couchsurfer que ia hospedar-nos. Tipo estranho mas com uma mãe de 60 anos simpática e que nos ofereceu sem hipótese de recusa o jantar e o pequeno-almoço e uma merenda para o outro dia. Pelo meio ficou uma visita nocturna ao centro histórico de Sibiu que é o encanto da cidade e que foi a imagem de marca em 2007. Por todo lado vêm-se ainda as referências a este título europeu concedido. São 2km de perímetro de “cidade velha” recheada de históricos edifícios dos séculos XIII ao XVII bem preservados e com tons coloridos nas paredes, bem como as ruas em pedra. Tudo isto circundado por uma muralha velha e com várias torres, como se um castelo/forte se tratasse.

Na manhã seguinte, decidimos apanhar um autocarro para Cluj, pois não havia comboios de manhã (em todo o dia só havia 2 comboios) e à boleia podia ser difícil e sermos deixados no meio do nada.  A chuva estragava um pouco o dia, mas a pior noticia tinha sido durante a noite, onde por motivos de emergência tínhamos perdido o couch de Cluj e que ainda estávamos a aguardar respostas dos outros pedidos feitos na véspera. Com algumas negas de alojamento, chegamos a Cluj ao meio-dia e fazemos caminho para o Dormitório XI do Complexo universitário II de Cluj (sugestão da couch que nos tinha “deixado na rua” à última hora). Tratava-se de um autêntico bairro de estudantes, como se uma vila se tratasse, onde nem supermercados faltavam e os habituais bares. Tudo isto junto a um conjunto de vários dormitórios, que pareciam ser bastante novos, localizados nas redondezas do campus. Não havia porteiro no dormitório mas havia uma campainha, porém por sorte conseguimos entrar e bater nas portas das amigas recomendadas. Lá acordámos a estudante francesa Lorraine de Erasmus em Cluj, que apanhada completamente de surpresa foi-nos verdadeiramente prestável, oferecendo de imediato a disponibilidade para deixarmos as malas ali e que ia tentar arranjar no dormitório algum local par dormirmos.

Saímos então para ver a cidade, debaixo da típica “chuva molha tolos” e depois decidimos ter um encontro com outra couchsurfer. Conversa interessante sobre os dois países representados (Portugal e Roménia) e lá se passava o tempo até que por volta das 17h tínhamos finalmente sítio para dormir confirmado. Sendo assim, fomos sair com este grupo de estudantes erasmus (Hungria, Alemanha e França) para um bar agradável e mais umas cervejas baratas e conversas multiculturais. Após fomos para uma festa de carnaval, com grande furor com Gypsy Kings e outros. Por volta das 2:30 regressa-se e faz-se um mini convívio nas escadas. Depois foi dormir até tarde, acordar, arrumar as cenas e rumar ao aeroporto… o resto já sabem e imaginam o desfecho… 2h a mais de espera no aeroporto, autocarro às 23h para Turim e último comboio para Asti e finalmente à 1:30 da manhã acabava finalmente deitado na minha cama, no meu quartinho verde…

JFSF